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Mais Coragem para Amar**

Ouvir um homem falar de amor costuma ser tocante. Mais ainda se ele for um pesquisador apaixonado pelo tema e, claro, pelas mulheres. O psicólogo suíço Walid Daw há 16 anos está desvendado os sentimentos que provocam o medo de amar. Com 58 anos de idade, ele tem na bagagem dois filhos e dois divórcios. Depois de uma grande depressão, largou uma bem sucedida carreira de ator e resolveu tornar-se terapeuta. Walid Daw viaja o mundo dando palestras, para terapeutas e leigos, ensinando como lidar com os obstáculos que impedem ambos os sexos de viver plenamente o amor. Nesta entrevista, ilustrada por várias de suas experiências pessoais, Daw declara que o amor é uma força humana totalmente dissociada das imagens hollywoodianas que povoam nossa mente e ensina como é possível libertar-se das crenças que impedem a vida a dois. Fala sobre dependências, infidelidade, solidão, saúde e acredita que a honestidade é a qualidade primeira para construir uma relação amorosa saudável e cheia de prazer. É uma visão menos romântica, mas muito otimista sobre os relacionamentos.

 

Por Liliane Oraggio*

 

 

Liliane OraggioAlém da psicanálise de Freud, o Sr. baseia seu trabalho em três grandes mestres. Foi aluno de Alexander Lowen, fundador da Análise Bioenergética; de John Pierrakos, psicanalista fundador do Core Energetics (ambos são métodos de terapia corporal) e desenvolveu a espiritualidade na Índia, com a prática da Siddha Yoga, fundada por Swami Muktananda. Antes disso, foi ator na Companhia do grande mímico francês, Marcel Marceau. O que o levou a deixar a bem sucedida carreira no teatro para se tornar psicoterapeuta?  

Walid Daw – Honestamente, eu estava em um momento muito duro, minha mulher tinha me deixado e eu não podia lidar com o final da relação. Estava em tournée pelos Estados Unidos, muito sozinho e deprimido. Sentia como se fosse um homeless. Percebi que tinha a técnica suficiente para estar no palco, mas não sentia de fato o que estava fazendo e o meu trabalho não irradiava nada para o público. Decidi nunca mais voltar ao palco. Mas hoje, olhando para trás, vejo que estava procurando encontrar a minha expressão, minha vitalidade, meu coração de artista fora do palco. Na verdade, nunca pensei em ser psicólogo (risos), mas a vida é a vida e sempre nos coloca exatamente no lugar onde temos que estar.

LO- Por que o Sr. resolveu fazer do medo de amar o tema central de seus estudos?

WD – Porque assim vou sendo capaz de desenvolver o amor cada vez mais. Depois de uma década de estudos, sinto que ainda estou aprendendo e explorando este vasto território do amor e ainda tenho muito medo desse sentimento.

LO – Ele é maior ou menor do que quando começou a pesquisar?

WD – Hoje, tenho menos medo do que quando iniciei.  Consigo estar mais aberto e buscando as respostas em mim mesmo. Isso me leva freqüentemente a ser mais honesto nas minhas relações.

LO – Mas essa não é uma contradição?

WD – Amando a mim mesmo, desenvolvendo a honestidade comigo mesmo, trabalhando gentilmente comigo mesmo, venço as críticas, o desejo de controlar o outro e a auto humilhação. Basicamente, esses são os três venenos do amor. Isso é muito claro: se você humilha a si mesmo, humilhará o parceiro. Se você não ama quem você é, como vai amar o outro? Como você pode acreditar que alguém o ama?

LO- Nós estamos imersos em imagens sobre o amor, vindas da mitologia grega, do cinema americano e europeu. São visões edulcoradas, românticas e, às vezes, terríveis sobre o amor e os amantes. Na maioria das histórias é preciso sofrer para amar… Qual é o efeito dessas imagens na vida real de cada um de nós?

WD – Para mim, o amor não tem absolutamente nada a ver com todas essas fantasias e imagens, embora elas estejam muito arraigadas na nossa cultura. Há imagens que dizem respeito a encontrar um amor, a viver um amor, a deixar um amor, mas elas são todas fabricadas. O amor, de fato, enquanto sentimento, passa por vários estágios que acompanham o desenvolvimento, da infância à maturidade. O primeiro estágio é quando a mãe diz para a criança bem pequena: “Eu te amo, estou perto de você”. Esse é o lugar mais puro do amor e gera apenas afeto e ternura para ambos. Depois, a criança ama sua mãe e também percebe que ela supre suas necessidades. Essa é a segunda fase do desenvolvimento, em que aprendemos que alguém vai suprir nossas necessidades e, por isso, o amamos. A afirmação desse estágio é: “Eu te amo porque você reflete para mim quem eu sou. Você me ajuda a ver a mim mesmo, a encontrar quem eu sou”. A referência é sempre o eu, eu, eu. Isto é a dependência, o foco se mantém no eu. Em seguida, o terceiro estágio é aquele em que tenho que tomar conta de mim e encontrar o poder pessoal de sobreviver. A busca é pelo potencial próprio. Então, não se ama por que o poder está no outro, mas em si mesmo. Nesse ponto do amadurecimento, você começa a viver essa força e amar a partir dela. Esse é o estágio em que o adulto deveria estar e a afirmação seria: “Eu amo porque tenho amor em mim e posso compartilhar com você”. Eu me movo em relação e você, sem a expectativa de ser amado ou de ter mais amor em troca do que dou. O amor acontece apenas porque amo e porque quero amar.

LO – Assim o amor fica em movimento…

WD– Exato. É uma força que se move em direção ao outro.

Como em uma dança. Se o parceiro é adulto, consegue dançar neste passo e ambos crescem a partir desse lugar em que o amor significa um compromisso mútuo, de ir em direção à outra pessoa. Você está amoroso e não está dependendo que o outro esteja amoroso para você também estar. Assim começa a ser criado o amor em torno de nós. Esse movimento nos conecta com a vida, com a luz, com a beleza.

LO – É, esse seria o pós-doutorado do amor…

WD – Sim, é um nível elevado e a maioria das pessoas ainda está fixada no amor por dependência. Nesse estágio, o amor se transforma em atitude amorosa e a traição não existe. Isso é maravilhoso.

LO – Isso me parece muito distante da realidade… Será possível?

WO – De fato, se sua vida é permeada por muitas ilusões a respeito do amor, as habilidades de pensar, de sentir e de manter a energia focada em um objetivo ficam dispersas. Mas amar dessa forma, digamos mais elevada, permite crescer inserido na realidade. O amor é um recurso para estar mais presente na vida e é capaz de elevar a nossa energia. Assim como o governo tem obrigação de tomar conta da saúde e da educação de um povo, cada um de nós tem a obrigação de apoiar outro ser humano para desenvolver essas qualidades. Sem isso, há um colonialismo emocional. Não vou falar de política, mas o relacionamento fica bem parecido com a exploração das colônias pelos países colonizadores.

LO – Como os bloqueios do amor afetam o corpo e, conseqüentemente, a saúde?

WD – Alexander Lowen, que foi um dos meus mestres e o criador da análise bioenergética, dizia: “O prazer é fluxo de energia” e isso é saúde. Apenas há vida onde há movimento. Qualquer situação amorosa em que os movimentos do afeto fiquem limitados por mágoa, raiva, ressentimento, provocará uma cristalização, isto é, essa vibração começa a ficar mais lenta. Pode chegar à estagnação e se transformar em doença. Por exemplo, há cristalizações que se formam nas articulações, causando artrose. Outras se manifestam como um tumor ou como de pedras nos rins. Nessa perspectiva, os trabalhos terapêuticos corporais, como o Core Energetics, colocam essa energia emocional em movimento e resgatam a capacidade de criar ressonâncias, restabelecendo a capacidade de contrair e expandir, que determina o pulso da vida.

LO – O que isso tem a ver com a relação a dois?  

WD – A pulsação inclui três movimentos: contração, pausa, expansão. Amar é uma expansão e o medo de amar, uma contração. Na relação a dois, às vezes, nosso coração está expandido na direção do outro e estou sentindo o outro. Mas, em outros momentos, estou em pausa, sem sentir nada por ninguém, os sentimentos estão em silêncio. E há momentos em que estou contraído, o movimento está estagnado ou vai para dentro, é introvertido e não permite mais ninguém ali. Esse pulsar é parte da natureza humana, do curso da vida. No método Core Energectics ensinamos como trazer essa energia para o coração e como transformar as negatividades, — que são resultado de profundos sentimentos de perda e abandono, para manter essa pulsação viva.

LO – Quais os efeitos de sentimentos negativos como o ciúme e a possessão?

WD – Se há dependência no lugar do amor, isso alimenta o sentimento de posse e a expectativa de que o parceiro supra todas as necessidades do outro. O amor real, o amor em que você está realmente conectado, não é possessivo, é um espaço aberto. É como um pássaro que está ali parado ou pronto para voar. Se ele voar ele volta, porque este é o espaço do amor. Amar, então, significa uma libertação, é o espaço da liberdade.

LO – E quanto à fidelidade?

WD – Para mim, a fidelidade é baseada na honestidade e na confiança. Significa revelar-se a si mesmo para o parceiro.

Posso sentir desejo sexual ou atração por alguém fora da relação, mas se há amor, antes de ceder aos meus instintos, me questiono até que ponto minha parceira vai lidar com isso. Até que ponto a traição colocará a relação em risco? Vale a pena ser infiel? Claro, o desejo sexual e a sensualidade fazem parte do relacionamento, mas quando a postura diante do outro é adulta, a conexão com o amor é naturalmente mais importante que a conexão com os impulsos físicos.

LO – Mas, nessa questão dos instintos há uma grande diferença entre homens e mulheres, não é?

WD – Sim, no aspecto energético, a força positiva do homem está mais concentrada nos genitais e menos no coração.

E nas mulheres é exatamente o oposto. A força positiva delas está mais concentrada no coração do que nos genitais.

As mulheres dizem “Eu preciso de amor, portanto transo com você” e eles dizem: “Eu preciso de sexo, portanto amo você”. E é nesse ponto que acontece o grande desencontro. Enquanto essa diferença básica entre os gêneros não for aceita e compreendida, a relação não se aprofunda.

LO – Como transformar a dependência – esse eu PRECISO de amor, eu PRECISO de sexo — em capacidade de amar?

WD – Unindo a experiência do prazer ao mergulho no nosso lado mais sombrio, que inclui a destruição, o ódio, a inveja, o ciúme. Nós precisamos explorar esses lugares tendo consciência a respeito deles e da energia destrutiva concentrada ali. Ela não deve ser simplesmente evitada, mas temos que aprender a direcionar essas forças. Ao mesmo tempo, temos que desenvolver as qualidades positivas, como ternura, doçura, abertura, apoio, conexão, compaixão, sentimentos calorosos, ações com boas intenções. Fazer isso a dois é o desafio, que exige atenção constante. Se você não está atento, não está sensível ao parceiro, não está aberto, como pode desenvolver a real intimidade?

LO – Então, o amor também pode nos chamar para o pior de nós, ao contrário do que tendemos a imaginar?

WD – Sim. Para desenvolver uma intimidade genuína temos que ser nós mesmos, incluindo o que é negativo e destrutivo.

Isso é ser honesto consigo mesmo e com o parceiro. Ambos têm que aprender a lidar com a verdade e não com o que imaginaram sobre o ser amado. Cada um, individualmente. A a relação só pode crescer a partir desse lugar, onde não há manipulação, controle, mentira, competição. Quando não há contato entre os corações nem confiança nem

auto percepção, o amor não se instala. Tudo que é real é muito simples. Quando você revela sua realidade para mim eu a revelo para você.

LO – A realidade do aqui e agora…

WD – Sim, exatamente. Então, o novo sentimento é: eu aceito você. Isso ajuda muito a definir o que um quer ou não quer do outro.

LO – Muitas pessoas bloqueiam esse contato com a realidade e relutam em ficar no presente. Estão sempre puxando a relação para o futuro ou para o passado ou para a ilusão do amor idealizado.

WD – Esse é um sinal de muito medo.

LO – Esse pavor pode congelar a coragem de amar?

WD – Vou responder com um exemplo. Perdi minha segunda esposa, porque não consegui lidar — e muito menos aceitar — a frieza e a ignorância dela. Quando ela me tratava com indiferença eu ficava muito desamparado. Então, eu a atacava e ela não podia estar aberta, se fechava ainda mais. Eu me sentia muito impotente e foi difícil enxergar que a minha impotência é minha! Eu não sou vítima do quer que ela faça.

LO – Nesses momentos, a tendência é acusar o outro de ser egoísta e autocentrado?  

WD – Além de ser honesto, acredito que o segundo passo de aprofundamento do amor é começar a estar atento ao quanto somos autocentrados e o quanto podemos abrir mão disso para estar com o outro. Essa é a verdadeira dança. Se eu for menos egoísta posso me perder no parceiro. Se eu ficar muito em mim, também perco o parceiro.

LO- Como resolver esse impasse?

WD – O maior desafio é achar o equilíbrio entre o eu e o outro e abraçar o que surgir entre nós. Frequentemente, peço aos casais que me procuram que façam uma pausa e apenas honrem a si mesmos, honrem o parceiro, honrem a relação que existe, o que fizeram juntos. Nessa perspectiva, a declaração de amor não será: “Eu te amo”. Será: “Eu te amo, eu me amo, eu amo o que você me proporciona e o quê há entre nós, eu amo nossa relação, nossas crianças, nosso casamento, o fato de sermos um homem e uma mulher juntos”. O foco deixa de ser o “Eu/Você” e passa a ser o “Nós”. Isso muda todo o rumo da história.

LO – Você realmente acredita em amor sem dependência?

WD – Claro, precisamos aprender a não depender.

Outro exemplo pessoal. Minha primeira mulher ficou atraída por outro homem. Eu não pude entender isso, já era possessivo e queria possuí-la ainda mais. Ela era minha e não poderia deixar essa energia escapar para outro homem. Isso foi uma loucura. Como eu podia limitá-la e obrigar que ela guardasse todo o seu poder apenas para mim? Onde estava minha tolerância? Isso é possessão. Com eu poderia querer manter o controle se ela é um ser livre para se mover para os outros? Eu não posso impedir isso porque ela é minha esposa. Então, conclui que ela não me amava.

LO – E era isso mesmo?

WD – Não. De fato, o ponto a ser questionado era: “Eu cofio em mim mesmo? Eu confio no homem que eu sou?”

Eu deveria ter olhado para o meu grande pavor de ficar sozinho! E, por incrível que pareça eu mesmo plantei a semente dessa traição. Um dia, estávamos muito apaixonados e ela me perguntou: “O que você faria se eu fosse embora?” Respondi de pronto: “Encontraria outra mulher”. Ela ficou chocada com a minha resposta e questionou: “Eu não significo nada para você?”. E eu não neguei. Fui arrogante e isso doeu nela, que quis provocar a mesma dor em mim. Veja a contradição: por causa do meu medo de ficar sozinho despertei esse sentimento entre nós e ela foi embora com outro homem. Mas, só pude enxergar isso muito tempo depois, reconhecendo que o pavor da solidão vem da dor pela separação do meu pai e da minha mãe. Não tinha nada a ver com ela.

LO – O que você conclui dessa experiência em que teve que se reconhecer tão fraco?

WD – Acredito que nós precisamos ter tolerância e, ao mesmo tempo, começar a rever a ideia que nosso sofrimento vem do lado de fora, vem do parceiro. Sinto que a cura emocional começa quando realmente paramos de achar que a causa da dor, da frustração, do sofrimento é o mundo externo. Esse é o lugar onde podemos ser profundamente honestos e onde nasce a cura.

LO – Você acredita em amor à primeira vista?

WD – Sim, isso pode acontecer. Mas é apenas um estágio da atração.

LO – Então não é amor?

WD – Geralmente, você sente uma atração, faz amor e, do sexo, surgem dependência e desejo de querer mais. Creio que para desenvolver mais amor é preciso se libertar dessa dinâmica, sair desta simbiose. Em inglês, usamos a expressão “fall in love” cair de amor e não “be in love” estar no amor. Estar apaixonado é bom, cair de amor é bom, é romântico, desperta as forças do romance, uma aventura da alma. Mas, mais profundamente, a alma não quer TER amor e sim COMPARTILHAR amor.

LO – E quando a rotina do relacionamento bloqueia isto?

WD – A rotina sempre bloqueia, por que ela não tem essa vibração. O cotidiano naturalmente faz com que o ar pare de circular. Então, é preciso criar mais estímulos para fazer essas trocas, para manter a flexibilidade e percepção aguçadas, em relação a si mesmo e ao parceiro. O amor precisa de presença, de conexão, de vivacidade, de consciência e sensibilidade. E, acima de tudo, que as pessoas decidam: “Eu quero estar com você”. Tudo isso começa com essa decisão. É o meu livre arbítrio que faz com que queira estar com o outro…

LO – Por que é preciso tanta coragem para dizer isso?

WD – Não é fácil perguntar ao parceiro: “Hei, você queria ficar comigo há dois anos, ainda quer?” Sim, as coisas podem mudar todo momento, qualquer fato pode matar o amor, uma afirmação infeliz pode tomar uma proporção enorme e deformar a relação, impedido a entrega.

LO – A conexão também é dinâmica?

WD – Claro. Eu perguntei isso a minha mulher e ela disse: “Não, eu não quero mais viver com você, depois de 12 anos”.

LO – Ao contrário da maioria dos terapeutas que entrevisto, o Sr. não guarda segredo sobre sua vida pessoal. Por que expõe suas próprias experiências para plateias lotadas?

WD – Elas me ensinaram como a vida é. Compartilho a minha experiência com quem está vivendo algo parecido com o quê vivi. Por outro lado, não quero ser um exemplo, um ídolo. Sou muito real, muito conectado a realidade, mesmo que isso represente um sofrimento. Por que não procurar a beleza nas coisas fazendo com que a vida seja boa sem negar as partes ruins ou dolorosas?

LO – No senso comum, amor é positivo, medo é negativo. Mas um faz parte do outro, não?

WD – Mais que isso: um não existe sem o outro. É o mix de positivo e negativo que produz a experiência humana. Não espere dominar o medo para depois se entregar ao amor. Tudo acontece junto e, a cada instante, há o quê superar e algo mais a entregar. Você pode amar e odiar. Essa paleta tem todos os tons.

LO – Mas, muita gente fica fixada em ter só pensamentos e sentimentos positivos…

WD – Isso é comum, mas temos que aceitar os sentimentos como são, em determinado momento. Eles devem ser explorados, olhados para que o movimento, a transformação ocorra. Vale explorar os sentimentos, encará-los, mas sem se apegar a eles.

LO – Muitas leitoras em entre 30 e 40 anos sofrem de solidão. O que você pode dizer a elas?

WD – A solidão é uma ilusão. Não é real. A solidão significa estar desconectado de si mesmo, isto é, não fazer nada que conecte a sua própria alma. É uma ilusão pensar que a solidão vai ser saciada com o amor de outra pessoa. Porque, por mais juntas que dois parceiros estejam, um nunca se tornará o outro. Por exemplo, posso amar minha esposa, mas quanto mais a amo, sinto que ela é diferente de mim, ela não sou eu. E eu não sou ela. Temos que aceitar essa realidade e essa dor. Desse lugar é possível ver que é preciso realmente lidar com as diferenças e, mais que isso, com a essência de cada um. Quando estive só senti que a única coisa que podia fazer era aceitar que, por mais amor que haja, sempre seremos seres separados. E nesse paradoxo mora a riqueza da experiência de estar a dois.

LO – O que você diria a uma mulher que vai ao primeiro encontro com um homem interessante?

WD – Vá aberta, seja honesta e confie em seus sentimentos, em sua percepção, em sua intuição. Eu atendo muitos casais e costumo pedir que quando estiverem um nos braços do outro, olhem bem fundo nos olhos e se perguntem:

“Esta é realmente a pessoa que me conecta com a minha própria alma?” Se a resposta for positiva, ótimo. Se não, novamente, é hora de ser honesto consigo mesmo e com o outro e buscar um novo caminho.

 

"O amor real, o amor em que você está realmente conectado, não é possessivo, é um espaço aberto. É como um pássaro que está ali parado ou pronto para voar. Se ele voar ele volta, porque este é o espaço do amor. Amar, então, significa uma libertação, é o espaço da liberdade."

“O amor real, o amor em que você está realmente conectado, não é possessivo, é um espaço aberto. É como um pássaro que está ali parado ou pronto para voar. Se ele voar ele volta, porque este é o espaço do amor. Amar, então, significa uma libertação, é o espaço da liberdade.”

 

 

Velhos padrões x Novos Amores

Para homens e mulheres a história não varia: é a relação com os pais na infância que determina de que tipo serão as escolhas amorosas na vida adulta. Baseado na teoria psicanalítica de Freud e em sua experiência clínica e pessoal o Dr. Walid Daw afirma: “Nossos pais são as primeiras pessoas que amamos. A forma como temos acesso  –liberado ou negado– a eles é tão marcante que permeia a atração por parceiros que permitam reviver esse mesmo tipo de relação, repetindo a sensação de prazer ou de dor. Claro, não estamos conscientes disso quando nos apaixonamos por alguém”, afirma.

Por exemplo: Luiza teve pais ausentes. Durante a infância, sentia-se solitária e os adultos não se importavam com suas abordagens. Aos 30 anos, sempre exige provas de amor de seus parceiros ou não entra totalmente nas relações, pois não suportaria ser abandonada novamente. Ou, em outro exemplo, ao contrário de Luiza, João teve pais superprotetores, que o sufocavam com cuidados. Adulto, rompe as relações com as mulheres antes que a intimidade se aprofunde. Ele tem medo de ser invadido, como era quando criança.

Já que ficar reclamando de pai e mãe depois dos 30 anos não faz sentido, o jeito é se comprometer a tirar o pó do passado e preparar-se para o presente, agindo sob outras perspectivas. Mas, para isso, é preciso reconhecer os padrões antigos e libertar-se deles.

Um bom começo é perceber que existem outros sentimentos que podem desencadear o medo das relações amorosas. O sofrimento por abandono, rejeição, abuso, frustração, perda são fatais para que o amor se torne uma ameaça e não uma experiência de plenitude. Essas marcas levam a alimentar crenças que limitam a capacidade de estabelecer relacionamentos saudáveis. Segundo Walid Daw, isso pode ser percebido por algumas afirmações até consideradas banais, mas que denunciam que o medo de amar é forte e um obstáculo a ser superado.

São elas:

“Não mereço o amor e não mereço ser amada”.

“O amor é um fardo e tenho que suportá-lo”.

“Nunca consigo ter o que eu realmente quero”.

“Só serei amada se me esforçar muito”.

“Só serei amada se me esforçar e não pedir nada em troca”.

“Se eu demonstrar minhas necessidades e fraquezas ele me abandonará”.

“Se ele souber quem eu realmente sou, não vai me amar”.

“Eu não confio no amor, ele é apenas uma forma de controle”.

“O amor me deixa frágil e perdida”.

“Eu o amo, logo, tenho que salvá-lo!”

Se você costuma falar ou apenas, intimamente, pensar assim é preciso rever padrões antigos e remover algumas pedras no caminho que leva ao amor.

 

Removendo os Obstáculos

 

O psicoterapeuta Walid Daw sugere as atitudes que podem aumentar a coragem diante da possibilidade de viver uma relação amorosa.

1. Primeiro, tome consciência do que causa medo da intimidade, do que faz com que você se feche para o amor. A lista de afirmações acima pode ajudar a saber qual é o seu medo em relação ao amor. Identifique exatamente do que você tem medo: de ficar só, do abandonado, de ser sufocado, de ser invadido, de ser traído.

2. Comprometa-se com a decisão de lidar com o medo e com os padrões rígidos que a impedem de aprender a amar.

3. Mantenha-se atento ao que esta sentindo no momento, sem tentar corrigir esse sentimento ou fugir dele.

4. Se você se abrir para essa dor, saiba que não encontrará demônios, mas apenas a si mesmo. Coragem!

5. Depois dessa reflexão, diante do parceiro novo ou já conhecido, mantenha-se aberto e curioso sobre os caminhos da relação.

 

 

*Liliane Oraggio (loraggio@gmail.com.br)  é jornalista especializada em temas do comportamento e terapeuta corporal colaboradora do Laboratório do Processo Formativo, em São Paulo (www.laboratoriodoprocessoformativo.com)

 

** Entrevista concedida em 2008, durante a participação do professor Walid Daw no Congresso promovido pelo Instituto Core Energetics em São Paulo, na ocasião do aniversário de 10 anos.

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